segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Como fazer mudas em saquinhos de polietileno

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Mudas de cidreiras


Como fazer um viveiro de mudas
Com saquinhos de polietileno, de semear o cafeeiro
Autor: João Cruzué

1 - Introdução

Fazer mudas de plantas além de ser um processo dinâmico, é um eterno aprendizado e eu adoro isso. Quero compartilhar com você minha cultura matuta neste negócio, quem sabe não se apaixona também? No decorrer do texto vou grifar algumas palavras de propósito para que pesquise mais na WEB. Conheço três processos de propagação de plantas: semeadura, estaquia e clonagem. Do mais simples ao mais sofisticado. Cada um está ligado à quantidade exigida de mudas.

2 – Processos de propagação

I - Clonagem de meristemas -Por exemplo se alguém precisa plantar, digamos 100 hectares de bananeiras, iria demandar digamos 100 mil mudas. Considerando que cada bananeira leva um ano para produzir duas ou três mudas. Se você estiver começando do zero, quantos anos levará para conseguir tantas mudas? Então neste caso, sei que a EMBRAPA-Mandioca e Fruticultura em Cruz das Almas - Bahia, recomendaria a tecnologia de clonagem de meristemas e a construção de um laboratório/estufa totalmente esterilizado para produzir em um/dois anos as 100 mil mudas. As grandes plantações de eucalipto também recorrem ao mesmo processo.

II - Estaquias - Sobre o processo de propagação, lembro-me bem quando assisti o Globo Rural e certo cultivador de goiabas cortava a ponta dos ramos de goiabeiras adultas, tamanho de uns 15cm – as estacas. Depois utilizava uma auxima de nome Ácido Indolbutírico ou Indolacético, cuja função é induzir artificialmente cada estaca a emitir raízes. Cada estaca (a ponta dos galhos) era fincada em um saquinho de polietileno (lona plástica). Milhares de saquinhos com as estacas eram reunidos em uma estufa para que em temperatura e umidade ideais pudessem pegar ou brotar em um ano. Com isso atenderia a necessidade de mudas requisitadas usando os ramos das árvores mais produtivas.

III – Semeadura – é o processo de propagação mais simples, artesanal, mais barato e também o meu preferido, uma vez que faço isto por prazer e não tenho grandes demandas de plantas senão as minhas próprias. Considerando que neste texto este é o processo principal, tome nota de algumas dicas de como fazer mudas utilizando os saquinhos de polietileno.

A) Vantagens do uso do saquinho para o plantio de sementes:

* Facilidade de irrigação e cuidados – porque você reúne vários deles em um só lugar próximo da sua casa, no quintal da cidade ou mesmo na cobertura de um prédio. Isto seria um viveiro ou para quem nunca trabalhou com mudas, diria que é um berçário de plantas.

* A segunda vantagem : com as mudas crescidas, podem ser plantadas de forma definitiva em qualquer lugar. Mesmo a quilômetros de distância. Por exemplo, meu pai (já falecido) adorava doce de cidras. Quando eu ainda era criança, ele trouxe algumas mudas de um sítio perto de Mariana, Minas Gerais. Além do famoso doce de cidra de “curtir”, a casca desta planta cítrica, quando utilizada em muitos tipos de doces, simplesmente deixa um aroma fantástico. Ao perceber que as cidreiras estavam morrendo, era minha função fazer novas mudas para que não se perdesse a espécie. Recentemente, trouxe das Gerais um fruto maduro da tal cidreira ,para fazer as mudas aqui mesmo na Capital paulista. Seis meses depois, além de presentear alguns amigos com algumas mudas, viajei 900km com dezenas delas de volta para plantar no sítio da família, no Vale do Rio Doce. Quando você faz uma muda dentro de um saquinho de polietileno (plástico) ela pode ser transportada com segurança para qualquer lugar sem ferimentos.

* Há plantas que não podem ser arrancadas do chão e transplantadas em outro lugar, pois não emitem novas raízes – é o caso do mamoeiro. Outras, precisam justamente ser arrancadas e transplantadas para que desenvolvam melhor suas raízes – os tomateiros, pimentões, alfaces, escarolas, cebolas, salsas etc. Tratando-se de árvores, na dúvida se a espécie pode ser arrancada ou não, é muito mais seguro e prático encher saquinhos de terra misturada, colocar ali as sementes, e quando as mudas estiverem grandinhas plantá-las no lugar definitivo, previamente escolhido – cortando apenas o fundo da embalagem de polietileno, sem ferir as raízes.


B) Terra, ferramentas, embalagens e dicas para semear um viveiro de plantas.

* Embalagem econômica – o saquinho de polietilileno do tipo usado para produzir mudas de café, é o mais indicado para testes de pequenas quantidades e plantas pequenas. Fiz um teste com algumas sementes de jatobazeiro, e ele se mostruo pequeno demais. A mudinha germinou enorme. Daí, um saquinho com dimensões entre 20 a 25cm de altura por 10 a 12,5 em de diâmetro, já cheio de terra - mostrou-se o mais indicado. Existe o saquinho intermediário de 15cm altura por 10cm de diâmetro. Nas grandes e pequenas cidades isto pode ser adquirido nas casas agrícolas. O custo do milheiro deles (do menor) fica em torno de R$7,00 a R$15,00. Há saquinhos de muitos tamanhos, estamos falando de um dos menores deles – os usados para semear café. Para árvores não frutíferas há saquinhos maiores e mais adequados.

* A terra para encher os saquinhos pode ser uma mistura de três componentes, 1/3 de terra vermelha de barranco de estradas ou argilosa; 1/3 de areia de construção média, e 1/3 de material orgânico; minha preferência é por esterco de gado seco (boi), na falta dele esterco de galinha ou terra vegetal. Este é o trio: Argila, areia e matéria orgânica.

* A terra deve ser bem misturada com uma enxada e pá. Use um carrinho de pedreiro para medir a argila, areia e a matéria orgânica. Depois de ter misturado os três substratos faça um monte e abra uma cratera nele, como se fosse um pequeno vulcão.

* Dentro desta cratera de “vulcão” adicione três baldes com água, um de cada vez e não deixe entornar. Use balde de 10 litros e ponha três colheres de cal de parede dentro de cada um e misture bem com a água. O cal pode ser encontrado em qualquer casa de materiais de construção. A função do cal é neutralizar a acidez, comum em terras brasileiras. Em terras ácidas, muitos macros e micronutrientes minerais ficam indisponíveis às raízes das plantas. É como se os alimentos existissem mas estivessem trancados à chaves.

* Ferramentas usadas para trabalhar na construção de um viveiro: enxada, pá, carrinho de pedreiro, balde de 10 litros, uma peneira de arame de crivo médio para groso, um pedaço de cano ou uma garrafa pet serrada ao meio, para encher os saquinhos de terra.

* A mistura de terra deve ser peneirada antes de ir para os saquinhos. Por isso atenção neste detalhe: quando você misturar argila+areia+matéria orgânica em seguida vai adicionar a água com o cal. Se usou como medida os carrinhos de pedreiro, sei que três baldes com 10 litros de água (com o cal) não vão transformar a mistura em barro. Depois de colocada a água e feito a mistura, a terra deve ficar úmida. Nem seca e nem barrenta, justamente no ponto para passar com facilidade pelos crivos da peneira.

* Para encher os saquinhos do tipo café no monte de terra duas improvisações legais: Ou um pedaço de cano comum de duas polegadas de diâmetro e 20cm de tamanho ou uma garrafa PET gramde de yogurte serrada ao meio.A boca desta garrafa é bem mais larga que as pets de refrigerante. No uso dos dois, gostei mais do segundo. Você veste a boca do frasco de yogourte dentro do saquinho e  segura. Com a outra extremidade da garrafa você enche de terra e levanta o saquinho. É bem rápido. No uso do pedaço de cano, você primeiro “veste” o saquinho dentro dele, para depois enfiá-lo no monte de terra e erguê-lo. Eu prefiro a garrafa PET. Essas duas “ferramentas” aumentam a velocidade do acondicionamento da terra dentro dos saquinhos.

* Ao encher os saquinhos com terra, segurá-los com as mãos e “bater” o fundo deles no chão para que a terra fique com os volumes corretos.

* Esterilização da terra misturada – se você quiser adicionar um pouco mais de tecnologia no processo de fazer suas mudas através de sementes, anote mais esta dica. Quando você mistura a argila com areia e matéria orgânica, ali existem fungos, nematóides e outros micróbios que vão parasitar as primeiras raízes das plantinhas. Quando você esteriliza a terra, dependendo do grau da esterilização, eliminará as pragas indesejáveis na mesma proporção. Conheço três métodos: dois naturais – a luz do sol e o calor do fogo. E um químico, que não uso: a fumigação com brometo de metila.

** A luz do sol – depois que misturar argila, areia e matéria orgânica, espalhe o composto bem ralo sobre uma superfície cimentada. Ajunte para depois revirar com a enxada umas três vezes por dia. Debaixo de uns três dias de sol forte, é provável que todos os fungos e micróbios tenham sido eliminados. Detalhe somente molhe a mistura com água e cal depois da insolação. Este método é melhor e mais seguro para uso em escolas.

** O calor do fogo també pode ser usado. Mas apenas em sítio e com muito cuidado. Não o recomendo para outro lugar.

** O Brometo de Metila também serve para esterilização. Como é perigoso e precisa de cobrir a terra muito bem com lonas plásticas para que não escape o gás, não é recomendável para experimentos por pessoas inexperientes.


C) O plantio, irrigação e sombreamento das sementes plantadas em saquinhos

* Encha o saquinho usando o pedaço de cano ou a meia garrafa PET até uns 4 ou 5cm da borda. Bata o saquinho no chão para a terra acomodar no nível correto.

* Coloque duas ou três sementes - separadas uma das outras – sobre a terra. e acondicione um saquinho junto do outro – no lugar escolhido para o viveiro, tanto em estufa, ou tendal coberto de folhas de palmeira, a semelhança de plantio de sementes de café. Depois de semeado o último saquinho, molhe bem – com água limpa - um por um. usando por exemplo uma garrafa PET com a tampa com um furo razoável. De nada adiantaria esterilizar todo o composto se na hora de irrigar a água for suja e contaminada.

* Depois de todos os saquinhos semeados e irrigados, passamos à etapa de cobertura das sementes. Cada semente tem uma profundidade adequada. Para sementes de árvores em termos gerais creio que uma cobertura de 2 a 3cm da mesma terra é o suficiente. Mas cada caso é um caso. Recapitulando: saquinho cheio e socado a 4cm da borda; semeado com duas ou três semente espalhadas sobre a terra; irrigação com água limpa, cobertura com terra até um centímetro da borda.

* Bom senso: o saquinho semeado e pronto deve estar com um volume de terra até um centímetro abaixo da borda. Se a profundidade certa para a semente for de dois centímetros, somando com o espaço vazio até a borda são 3cm. Isto significa que no primeiro enchimento com terra deve ser feito a 3cm da borda. No caso de minhas mudas de cidra, mamoeiro e maracujazeiro procedi assim. Contudo sei que existem árvores cujas sementes demandariam que suas sementes fossem colocadas em profundidades maiores.

* Irrigação – Eu costumo colocar as mudas em uma superfície cimentada e plana, para efetuar duas formas de irrigação simultâneas. Por inundação e por aspersão. os saquinhos têm furos no fundo e nas laterais. Considerando uma quantidade de 300 saquinhos acondicionados em um espaço plano e cimentado de 2,5m por 60cm de largura, deixo três espaços vazios para despejar a água de três baldes, um em cada espaço. Esta água irriga “subindo” na terra de cada um. É uma irrigação bem rápida. Entretanto a terra da superfície que está sobre as sementes costuma não ficar umedecida, daí ser necessário irrigar cada saquinho com uma garrafa PET com a tampa furada ou com um regador de crivos finos. O importante é que a terra dos saquinhos fiquem mesmo a um centímetro da borda, para que o plástico não dobre sobre ela e impeça uma correta irrigação.

Nível de umidade – evitar os dois extremos: nem barro nem terra seca. Irrigar cedo de manhã e à tardinha. Para irrigar corretamente, retirar a cobertura do sombreamento.

* Sombreamento – sementes germinam corretamente no escuro. Há casos como as de eucalipto que se não ficarem completamente cobertas em escuridão total - não germinam. Por isso, é preciso fazer o sombreamento. Mesmo debaixo de estufas devem ser sombreadas à escuridão. Em minhas mudas de mamoeiro, cidras e maracujazeiros em pequenas quantidades uso folhas de jornal. Em médias quantidades, sem estufa, uso folhas de palmeiras, sobre estrutura de madeira ou bambu, primeiramente a pouca altura dos saquinhos, para completa escuridão; depois subindo gradativamente à medida que germinam até poderem receber a luz do sol da manhã e depois retirando completamente. Aqui também o bom senso precisa atuar: a proteção do sombreamento é usada do plantio à germinação; germinando as sementes e apresentando as primeiras folhinhas, as mudinhas devem ser “apresentadas” ao sol. Como disse no começo o processo de aprendizagem para estas coisas é caso a caso e dinâmico. Só o exercício vai levar à acumulação do conhecimento.

D) Adubação química

Se você quiser adicionar de novo um pouco mais tecnologia ao processo de fazer suas mudas a partir de sementes, anote mais algumas dicas.

* quando você adicionou matéria orgânica em seu composto de terra, e usou a luz do sol para esterilizá-lo, ficou tudo bem com a adubação orgânica. Quando você adicionou 3 colheres de cal de parede em cada balde de 10 litros de água e molhou a argila+areia+matéria orgânica você teoricamente corrigiu a acidez que é prevalente nos solos brasileiros, ainda mais que dois terços do composto que você fez eram de areia e matéria orgânica – ácidos por natureza. Mas quimicamente, isto é, uma reposição dos macro e micro elementos ausentes na terra, você ainda não fez nada.

* Os solos brasileiros já exauridos são muito pobres principalmente em P – Fósforo, um macronutriente ligado diretamente frutificação. Em segundo lugar e com menos intensidade de N – Nitrogênio e depois em K – Potássio. Adubar quimicamente seria repor estes elementos no solo. As fontes desses elementos que os encontramos no mercado vem de processos químicos de fabricação, embora o fósforo possa ser adquirido de pedras naturais. Considerando apenas estes macronutrientes, a conhecida fórmula NPK.

* Existe quatro formas básicas de adubação. A adubação de cova ou de fundo de cova cuja fórmula mais conhecida é a 04-14-08 ou 4% de N(Nitrogênio) 14% de P(Fósforo) e 8% de K(Potássio). Por que esta adubação deve ser feita no fundo da cova? Porque o Fósforo uma vez na cova ele não “sobe” nem “desce” sob o efeito da irrigação. A raiz da planta tem de passar por ele para que absorva este elemento. O Potássio tem uma mobilidade mediana e o Nitrogênio já se desloca pela ação da água de irrigação. Por isso as fórmulas de adubação de cova são colocadas abaixo das sementes para que ao germinarem as raízes passem pelos adubos.

* Importante – as sementes não podem ficar em contato direto com o adubo químico, sob pena de desidratação ou serem “queimadas”. O adubo deve ficar a uns três dedos ou quatro centímetros abaixo das sementes. Entre a semente e o adubo químico é claro que fica a terra. Repetindo a fórmula de NPK para adubação de cova é a popular 4-14-8.

* A segunda forma de adubação chama-se adubação por cobertura. Neste tipo de adubação – que não é usado em viveiro de mudas em saquinhos de polietileno, a fórmula química é colocada ligeiramente abaixo da superfície do solo, para que pela ação da água de irrigação ou da chuva desça até às raízes de uma planta jovem ou adulta já transplantada para seu lugar definitivo. Em são Paulo conheço a Fórmula NPK 10.10.10 – 10% de N(Nitrogênio) e a mesma porcentagem de Fósforo e Potássio – produzidos com geralmente a partir de fontes de Elementos diferentes da fórmula de adubação de cova.

* A terceira forma de adubação chama-se adubação foliar. Ela pode ser usada em duas situações. Na primeira quando houve algum erro ou em adubações de cova ou de cobertura. Para sanar imediatamente a deficiência adquire-se produtos disponíveis no mercado, geralmente em pacotes de um, dois quilos que podem ser diluídos em água e aplicados com pulverizadores diretamente sobre as folhas das plantas, na parte da manhã quando os estômatos das folhas ainda estão abertos. A segunda situação acontece quando existe uma deficiência ou sintoma de carência de um micronutriente, como por exemplo Zinco, Boro e algumas vezes Cálcio. É muito mais econômico pulverizar com com 20 30 gramas em água diretamente sobre a planta, que despejar centenas de quilos de uma fonte desses Elementos no solo de grandes ou pequenas áreas. Ainda mais se considerarmos que bastam duas aplicações assim por ano ou nem isso.

* A quarta e mais sofisticada fórmula de adubação é feita diretamente na água da irrigação, sendo primeiramente usadas em estufas com plantios hidropônicos e depois em plantios abertos por sistemas de gotejamento. Naturalmente isso não é usado em processos artesanais de semeadura em saquinhos.

Ufa! Acho que aí está uma boa parte do conhecimento sobre agricultura que este matuto, aprendeu praticando. Hoje ele fala inglês e a contragosto mora longe do sítio.

cruzue@gmail.com